Cross-Cultural Design

Akpem, Senongo

Cross-Cultural Design

2020 New York
A Book Apart
Editora

Senongo Akpem é ilustrador e profissional na área do design há mais de 15 anos. Residiu em países culturalmente diversificados como a Nigéria (onde nasceu), Japão e Estados Unidos (onde vive atualmente), o que lhe possibilitou a oportunidade de vivenciar realidades distintas e adquirir conhecimentos contribuidores para o desenvolvimento dos seus mais variados projetos, caracterizados por um design centrado no ser humano.

Em Cross-Cultural Design, publicado em 2020 pela editora A Book Apart, propõe que o design enquanto atividade deve ser multicultural e global, sugerindo estratégias de como conduzir pesquisas de experiência do usuário para diferentes culturas e como incorporar estes resultados na criação de designs mais inclusivos, bem como de experiências acessíveis a uma audiência mais alargada. Procura ainda consciencializar o leitor sobre os desafios do design multicultural.

O conteúdo do livro é dividido em 6 partes distintas: 1. People and Culture; 2. Principles of Cross-Cultural Design; 3. Cross-Cultural Practitioners; 4. Cross-Cultural Research; 5. Culturally Responsive Experiences; 6. Internationalization and Localization. A abordagem de conteúdos é feita de modo a apresentar o livro enquanto um guia prático. No início do livro é feita uma breve descrição de cada capítulo, facilitando a navegação pelos mesmos. Esta navegação pode todavia ser feita de forma não linear, dando liberdade ao leitor para estudar os conteúdos pela ordem que preferir. O autor disponibiliza ferramentas importantes para leituras futuras, dando especial atenção à referência a outros títulos da A Book Apart que possam conter informação relevante a acrescentar ao tema em discussão. O livro tem uma escrita acessível e familiar, sendo a sua narrativa quase como uma conversa direta com o leitor, o que de certa forma se torna importante para o manter interessado em continuar a leitura. Este modo de escrita é enfatizado pela recorrência de perguntas retóricas. 

Apresenta conceitos novos e interessantes, tais como o termo WEIRD — Westernized, Educated, Industrialized, Rich, Developed, usado pelo autor para descrever culturas ocidentais. Faz referência a fontes relevantes como artigos jornalísticos, estatísticas e estudos com os quais fundamenta os seus argumentos. E dá ainda a conhecer exemplos reais para a ilustração dos temas por ele abordados, salientando as dificuldades técnicas enquanto parte do processo de design, até mesmo de experiência pessoal. Por exemplo, no início do primeiro capítulo expõe a seguinte situação: No ano de 2016 ficou responsável pelo redesign do website da Regulatory Assistance Project, uma organização não governamental focada no desenvolvimento de políticas para produção de energia de forma sustentável. A atuação a nível global levou à necessidade de criar a página “Where We Work” dentro do website. Nesta página foi inserido um mapa-mundo no qual se destacavam as regiões de atuação desta ONG. No entanto, após a análise do mesmo, percebeu-se que este não incluía países formados depois do ano de 2011, como o Sudão do Sul, e que não identificava territórios em disputa como Caxemira, Colinas de Golã e Crimeia. 

Apesar de se focar em UX design e design para grandes corporações, este livro parece ter como público alvo profissionais da área do design, em particular novos designers que possam estar agora a entrar no mercado de trabalho. A linguagem simples e apresentação de alguns conceitos base reforça o foco neste público alvo. Para além disso, o autor procura motivar a aprendizagem prometendo a aquisição de um conhecimento mais alargado e bons resultados no desenvolvimento de projetos de design que possam vir a ser desenvolvidos pelo leitor. Esta motivação é dada por frases ao longo do livro como “Whatever your motivation, this book will help you address that audience with clarity and purpose” (p. 20).

O tema da diversidade cultural é discutido como algo que deve ser trabalhado e melhorado e não somente utilizado enquanto “a business catchphrase,” como o próprio autor refere (p. 20). Fazer escolhas de design que possam falhar na inclusão do público alvo não é algo que o designer deseje que aconteça; isso justifica que este tema seja tantas vezes evitado. Apesar de basear algum do conteúdo do livro em experiências e conhecimentos pessoais, Akpem enfatiza a necessidade de incorporar diversas perspectivas ao longo do processo de design, no qual o conceito de design justice, ou design justo, desempenha um papel importante; tal como ele afirma “every project is an opportunity to design for and with people from every niche (…)” (p. 25). 

Cross-Cultural Design é um livro composto por 161 páginas, o que o torna leve e fácil de manusear e transportar. Alguns dos seus aspetos menos positivos são, primeiramente, o preço consideravelmente alto em comparação a livros de conteúdo e número de páginas semelhante: o E-book custa 19 dólares e a sua versão impressa 29 dólares. Embora promova um design inclusivo e transversal a pessoas inseridas em diferentes contextos sociais e culturais – um ideal enfatizado no próprio título do livro – este apenas foi editado (por enquanto) em inglês, o que exclui uma grande parte da população mundial de aceder ao conteúdo que apresenta.

Foi publicado pela A Book Apart, uma editora que publica exclusivamente livros focados no desenvolvimento aprofundado de um tópico, teórico ou técnico, predominantemente inseridos no âmbito da disciplina do design. Outros dos seus títulos incluem Inclusive Design Communities, Design for Safety e Responsible Javascript. Todos os livros são de pequeno formato e dispõem de uma aparência de caráter minimalista, dando prioridade à capa mole tipográfica de cor sólida, bem como ao conteúdo das páginas estruturado de forma convencional. Apesar desta opção ser visualmente agradável, ao se diferenciarem apenas pela alteração de cor da capa estes livros tornam-se, no seu conjunto, tão monótonos como carentes de alguma personalidade que lhes poderia ser atribuída, dependendo do tópico abordado no mesmo. Esta escolha, tanto relativa à capa quanto à edição de conteúdo, pode fazer com que estes se tornem pouco convidativos à leitura.

Apesar deste livro apresentar propostas de como desenvolver um design mais global, e de valorizar exemplos verídicos e características culturais, a meu ver o design global continua a ser difícil de alcançar; um designer dificilmente se consegue colocar numa posição completamente neutra em que os projetos que desenvolve sejam representativos e compreendidos por todos. A experiência pessoal é crucial para o posicionamento do designer na discussão de questões sociais, morais e culturais, fatores que influenciam os seus projetos e para quem os projeta. No entanto, o modo como se posiciona deve partir de pesquisa e da procura de perspectivas culturais distintas.

Recensão de:
Catarina Oliveira

Licenciatura em Design de Comunicação, FBAUL

Disciplina: Estudos em Design, 2022-23