Design for the Real World

Papanek, Victor

Design for the Real World: Human Ecology and Social Change

2019 London
Thames & Hudson
Editora

Design for the Real World foi escrito por Victor Papanek e lançado em 1971; apesar de ter sido escrito já há mais de 50 anos, muitas das suas ideias e métodos de pensamento são utilizados atualmente. O foco do livro é direcionado para o design sustentável e para o papel do designer no seu trabalho, chamando a atenção à responsabilidade e conduta ética do designer. 

Papanek inicialmente introduz ao leitor o que é o design. Este pode ser lido e percebido por qualquer pessoa, mesmo que não seja um designer. Aliás, Papanek até menciona que “All men are designers. All that we do, almost all the time, is design, for design is basic to all human activity.” (p. XX) Reforça também a ideia que o design não é algo que pode ser individual, que funcione por si só, mas faz continuamente parte da nossa vida: “The planning and patterning of any act toward a desired, foreseeable end constitutes the design process. Any attempt to separate design, to make it a thing-by-itself, works counter to the fact that design is the primary underlying matrix of life” (p. XX). 

Uma das ideias-chave do livro está presente logo neste primeiro capítulo. O design é/deve ser mais do que apenas belo. O design deve cumprir o seu propósito ou a sua função. Por exemplo: “The streamlining of a trout’s body may be aesthetically satisfying to us, but for the trout it is a means for swimming efficiency” (p. XX). Neste caso, o exemplo não é uma forma de design humano mas explica o tema “forma segue a função.” Um produto não basta ser belo ou cativante para ser um bom design. Uma cadeira que seja esteticamente bonita mas que não é desenhada de forma ergonómica torna-se num mau design porque não cumpre a sua função. Como Papanek menciona, o design deve servir pelo menos os seguintes métodos: método (a interação de ferramentas, materiais e processos de forma a que se tire a melhor experiência/ utilização da junção destes); uso (se funciona); necessidade (qual a necessidade de determinado produto na sociedade (ainda que na sociedade consumista muitas vezes o produto é imposto ao consumidor em vez do que realmente refletir aquilo que precisa, seja a nível económico, psicológico, espiritual, tecnológico, entre outros; telesis (o design deve estar alinhado com o seu contemporâneo para refletir e dar condições às necessidades do consumidor); associação(as nossas experiências refletem bastante a associação que fazemos com determinados objetos/produtos. Um exemplo de mau design é fazer um pacote de gomas como uma embalagem de comprimidos); estética (a estética do design apenas ajuda o design a ser mais apelativo ao consumidor). 

Papanek foca-se na responsabilidade do designer face às suas criações e motes de pensamento e como essas podem influenciar a sociedade onde se inserem. Começa o terceiro capítulo por criticar a sociedade consumista e como o designer tem um papel sobre essa mesma sociedade. “No longer does the artist, craftsman, or in some cases the designer, operate with the good of the consumer in mind; rather, many creative statements have become highly individualistic, auto-therapeutic little comments by the artist to himself” (p. XX). É mencionado a época do modernismo, onde realça vários movimentos como o movimento Dadaísta e o movimento Surrealista e como estes interferiam no mundo da arte. A revolução industrial não foi recebida da mesma forma para todos os artistas, como Papanek mencionou: “Some artists, then, see the machine as a threat, some as a way of life, some as a salvation” (p. XX). Por exemplo, o movimento Dadaísta tentou mostrar o absurdo da época e do seu mundo a partir da satirização da máquina. O design especialmente estava a perder o seu objetivo de funcionalidade, e para todos, e era algo pensado como individual: “Art as self-gratification can, of course, also act as an outlet for aggression and hostility” (p. XX).

O título do quinto capítulo traduz outra ideia-chave que Papanek quis transmitir através do seu livro: o designer tem a responsabilidade das consequências que os seus próprios designs têm na sociedade. “Our Kleenex Culture” é o título do capítulo. Kleenex é uma marca de lenços de papel; nóscompramos uma caixa de “Kleenex”, usamos um lenço, e deitamos fora, assim sucessivamente até acabar a caixa e comprarmos outra, entretanto, os lenços usados criam uma quantidade gigantesca de resíduo ambiental. O título é portanto uma metáfora e crítica ao design e ao seu papel na época. 

Papanek rege-se através de duas regras: o preço deve refletir a durabilidade e descartabilidade de um produto e o designer deve refletir sobre o que acontece com determinado produto quando este é descartado. É chamado a atenção o importantíssimo papel do designer na área da sustentabilidade e na responsabilidade moral e social que este acarreta. “When we design for and plan things to be discarded, we exercise insufficient care in designing or in considering safety factors” (p. XX).  Desde que esta “chamada a atenção” e atribuição de culpa ao designer neste assunto foram feitas começaram a surgir novas formas de design sustentável. O nosso futuro e o futuro do planeta depende também na habilidade do designer saber redesenhar e repensar os seus produtos e as suas funções e determinado impacto que têm: “The designer should not be a pimp for the excess of the big business interests” (p. XX), o designer deve ter em consideração “the insights, the broad, non specialized, interactive overview of a time combined with a sense of social responsibility” (p. XX)

O autor menciona também que o papel do designer se torna mais difícil enquanto este tem de acompanhar um mundo orientado para o consumismo, mercado, e lucros. Papanek fez até uma sátira, “Lolita Project”, publicado no The Futurist em Abril de 1970, onde este satiriza como a mulher é sexualizada e vista como objeto sexual aos olhos da sociedade, ao ponto de existir mercado e publicitação de uma boneca de uma mulher que tinha características como: ter o corpo de uma modelo, ter aquecimento incorporado, entre outros. Ou seja, toda a publicidade à volta deste “produto” é mau design e má responsabilidade e moralidade por parte do designer. 

A Embora tenha sido escrito há mais de meia década, o livro ainda reflete problemas atuais. Os designers, apesar de terem evoluído bastante no design sustentável e terem mais em consideração a sua responsabilidade a nível de trabalho para com a sociedade, ainda continuam a cometer os mesmos erros e muitas vezes a optarem pelo lucro ao invés de refletirem sobre o que estão a inserir na sociedade. Mesmo o autor culpando o designer por criar produtos que não se enquadram na sociedade e pela insatisfação do consumidor, o produto “mainstream” continua a ser hoje uma realidade. Papanek mencionou ao longo do livro os problemas e soluções dos mesmos, a forma de como se deve praticar design e em que consiste o design. O facto de mesmo com esta informação e especialmente esta chamada de atenção à sustentabilidade, e tendo em conta que o nosso futuro depende disso, é uma desilusão constatar que o livro ainda hoje reflete bastante a situação e a época que o livro retrata como sendo também a nossa época. Também por isso este continua a ser um livro de leitura obrigatória para os designers.

Recensão de:
Carolina Gregório

Licenciatura em Design de Comunicação, FBAUL

Disciplina: Estudos em Design, 2022-23