Design for Cognitive Bias

Dylan Thomas, David

Design for Cognitive Bias

2020 New York
A Book Apart
Editora

Design for Cognitive Bias é um livro que explora diferentes preconceitos e a relação que estes têm com o design e o ser humano. Para conseguir compreender aprofundadamente como é que estes se interligam o autor, David Dylan Thomas, estruturou o livro segundo quatro capítulos essenciais: 1. What is bias?, 2. User Bias, 3. Stakeholder Bias, 4. Our own Bias. Os quatro exploram diferentes perspectivas do assunto, começando em particular por procurar perceber de que modo os seres humanos pensam, agem e interagem uns com os outros. 

Neste ponto de partida fala sobre a necessidade que o ser humano sente de ter sempre uma determinada certeza relativamente aos mais diversos assuntos. Afirma que esta busca pode resultar numa ilusão de certeza, que consiste no facto de se acreditar indiscutivelmente em algo, ainda que possa nem sempre ser verdade ou estar certo. Tendo este aspecto em mente, explora então o conceito de “decisão”, tendo como foco o modo irracional e inconsciente com que por vezes se toma decisões ou se responde a questões. Assim chega ao ponto-chave, os preconceitos cognitivos. Estes surgem precisamente de determinados preconceitos que derivam de erros cognitivos que por vezes se comete de forma inconsciente durante decisões e/ou na busca pela certeza.

Utilizando os preconceitos cognitivos como base para todo o desenvolvimento do livro, avança então para o design e o consumidor. Nesta parte reflete sobre a forma como o design influencia e é influenciado pelas decisões e forma de pensar do consumidor. Percorre como forma complementar uma lista extensa de exemplos que demonstram esta interação e os preconceitos existentes não só no consumidor, mas também no criador e produtor de conteúdos. Dentro destes, destaca-se por exemplo o fenómeno conhecido por “cognitive fluency.” Este é referente à forma como cada pessoa traduz a facilidade cognitiva com que percebe algo, como verdadeira facilidade. Isto é algo que afeta o próprio design, levando à criação de objetos que à partida tenham uma aparência da qual seja mais fácil retirar informação: “É a percepção da facilidade que nos atrai, não a sua realidade. E é a percepção da dificuldade que nos afasta.” 1 O problema neste caso surge quando isto leva ao surgimento de um outro preconceito, o “naming-pronunciation effect.” Aqui fala-se do modo como o nome de uma pessoa, ou de algo, que seja mais fácil de pronunciar é visto de forma mais favorável, conduzindo a mais benefícios. Isto é por si só um fenômeno de preconceito cultural.

Após fazer uma passagem por exemplos como este, o autor foca-se no meio de trabalho dos designers apresentando conselhos para melhorar a cooperação e processos de design, tendo simultaneamente como propósito o recorrente objetivo de eliminar ou reduzir os preconceitos também aqui presentes. Já no último capítulo, procura fazer o leitor refletir sobre os seus próprios preconceitos. Esta reflexão, que vai sendo fermentada ao longo do livro, chega aqui ao seu ponto auge, onde com uma abertura mais direta fala sobre as ideias e opiniões pré-definidas que muitas vezes se tem e que se desconhece – ou nas quais se prefere não acreditar. Um exemplo disto é o “self-serving bias.” Este diz respeito ao hábito de retirar crédito por situações vitoriosas e em oposição culpar outros em caso de ocorrerem erros ou mesmo uma derrota.

Após se realizar esta breve passagem pelos conteúdos pode-se assim dizer que o livro explorando a ligação inicial de “preconceitos – design – humano”, pretende fazer com que o leitor tome consciência da existência dos preconceitos e que procure agir tendo isso em consideração. Em termos de composição, para além do texto principal são destacados no livro os seus conceitos principais, bem como um grupo de elementos mais interativos. Os conceitos destacados surgem de forma recorrente ao longo do texto e consistem na identificação de diferentes tipos de preconceitos, tais como: “bias blind spot”, “confirmation bias”, “status quo bias”, “framing effect,” “cognitive fluency”, “ingroup bias”… Enquanto que o grupo de elementos que criam alguma interatividade consiste na introdução de diversos links que remetem para pesquisas que fundamentam aquilo de que se vai falando. Há todavia que realçar que numa versão impressa do livro isto não é muito prático. 

Já a nível de linguagem, o livro é bastante fácil de se ler apesar de conter termos e lógicas que por vezes exigem uma maior atenção e cuidado. O livro em si parece ser escrito tendo em vista o designer como o seu leitor, em vez de um público mais alargado. Os seus capítulos inicial e final são esclarecedores e elucidativos para todos, incluindo o terceiro e quarto capítulos muitas dicas para quem trabalha na área. É interessante, contudo, compreender que este livro proporciona uma dinâmica na qual a partir do mesmo conteúdo, dependendo de quem o lê se possa deduzir aspectos bastante diferentes. 

Por um lado, ao apresentar preconceitos como o “confirmation bias” – que se refere ao modo como quando alguém tem uma ideia irá ignorar ou descredibilizar todas as informações que a refutam – o autor conduz os próprios designers a identificarem os seus preconceitos. Poderá surgir complementarmente a isto uma tentativa de compreensão da forma de pensar de quem usa e consome os seus produtos, o que leva por sua vez à criação de produtos/conteúdos que sejam em si mesmos mais conscientes. Por outro lado, uma pessoa que não pertença à área poderá ainda aplicar as dicas para reduzir/eliminar os preconceitos em outras circunstâncias. Para além disto poderá ainda ler o livro com outra visão, pois poderá ser consumidor de alguns dos produtos apresentados, levando assim também a que repense as suas ações e escolhas. 

Concluindo, ao explorar uma série de preconceitos cognitivos que se encontram presentes não só no nosso trabalho, mas também nos momentos mais banais das nossas vidas, este livro revela-se um guia essencial. Relembra quem o lê que os preconceitos se formam de modo inconsciente e de que não se está sempre em controlo, apesar da constante tendência para se pensar que se está. É um livro fundamental para qualquer designer e útil para todos os leitores que procurem aprofundar a sua compreensão sobre ligação, design, preconceitos e o ser humano. 

1 Tradução da autora. Excerto original:  “It’s the perception of ease that draws us in, not the reality of it. And it’s the perception of difficulty that turns us away”.

Recensão de:
Vanessa Santos

Licenciatura em Design de Comunicação, FBAUL

Disciplina: Estudos em Design, 2022-23