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How design makes us think and feel and do things – Disseny Obert

How design makes us think and feel and do things

Adams, Sean

How design makes us think and feel and do things

2021 Princeton
Princeton Architectural Press
Editora

O livro How design makes us think, feel and do things apresenta-se com um título ambicioso. Neste, o designer Sean Adams tenta explicar, como dito no título, a maneira como obras de design nos fazem pensar, sentir, e fazer coisas. Essencialmente, qual é a nossa reação, física ou emocional, a certos elementos do design. Foi esse o meu motivo para escolher analisar este livro e “dissecar” vários trabalhos de forma a conseguir entender e interpretar melhor o processo de pensamento de design do mundo à minha volta, tal como o livro promete.

Esta obra encontra-se dividida em treze capítulos, cada um deles correspondendo a uma emoção específica. Dentro destes, Adams descreve a emoção no design da peça, passando de seguida a dar exemplos práticos da sua aplicação, sob a forma de imagens acompanhadas por texto.

Um exemplo notável do funcionamento desta estrutura pode ser visto imediatamente no primeiro capítulo, o qual aborda a sedução. Adams defende que a sedução vem da ideia de convidar o observador a querer ganhar mais intimidade com o objeto; isto pode ser atingido de várias maneiras, tais como preferência estética, ou o reconhecimento de uma marca ao ponto dos seus produtos ganharem estatuto especial. Ou seja, não só o “valor” concebido de um produto afeta como o vemos, como também nos identificamos com ele. Os consumidores gostam da ideia de uma opção “fácil”  de consumo – quer na maneira de obtê-la, quer por saberem que estão a fazer a escolha certa. Essencialmente, o objetivo do emprego da sedução no design é tirar proveito de emoções que vêm de reações automáticas à percepção do artigo para, dessa forma, captar o observador (e consumidor).

O autor também nos leva a considerar a maneira como os objetos são concebidos no capítulo sobre a eficiência, onde reflete sobre quanto tempo demoramos a conseguir compreender como utilizar um objeto, ou perceber a mensagem de uma obra. Isto contrasta diretamente com alguns temas apresentados noutros capítulos do livro, tais como inteligência ou prazer, através dos quais os designers se preocupam em oferecer uma experiência em que o observador tem que pensar sobre o método como uma peça está apresentada e a experiência que ele tem, obtendo assim prazer em descobrir como interpretar o que vê.

Estas duas facetas do design apresentadas no livro não só nos demonstram diferentes tipos de design, mas também mostram que existe uma diferença entre produtos criados para a indústria e outros criados para uma exposição. Enquanto no design focado em eficiência vemos as consequências da revolução industrial e do capitalismo em produtos feitos para consumo em massa, “estandardização” e uso do espaço, quando procuramos design com prazer a mentalidade é diferente. Ao dizer que o prazer deve ser merecido, (p. 341)  o autor diz-nos que  o design é usado para nos convidar a experienciar o artigo a um nível mais íntimo e emocional; de uma certa maneira, somos convidados a “sair da realidade” e sermos absorvido pela peça. Ao contrário da “rapidez” oferecida pelas peças eficientes, o prazer deixa-nos imergir na obra para a conseguir entender, podendo ser acrescentada a ela uma mensagem obscura que é produto da inteligência do designer, o qual nos apela a termos   consciência sobre o que estamos a ver, o que nos traz satisfação.

Por muito bem que os tópicos anteriores tenham sido apresentados, o formato deste livro tem alguns problemas: em primeiro lugar, a sua organização quanto a texto e imagens: nele são apresentadas várias páginas de texto seguidas de várias páginas apenas com imagens, o que faz com que o leitor precise de ir procurar a imagem fora da página do texto. Isto quebra a experiência de leitura. 

Mais relevante ainda é a forma como o autor não consegue dar a entender o contexto sociocultural ou o público-alvo que influencia o design, tal como se propõe a fazer. Falhar em dar esse contexto é falhar ao perceber o objetivo do design. Isto pode ser bem ilustrado pelo capítulo dedicado ao humor. Adams cita o escritor E. B. White que diz que humor é como dissecar uma rã: poucas pessoas estão interessadas, e a rã morre no processo (p. 115). É então irónico que Adams o faça ao longo do livro. O humor é uma ferramenta muito importante para os designers, já que é  uma maneira de passar mensagens fora do socialmente aceitável, sendo até desconfortável. Esse é aliás o motivo por que comediantes pedem muitas vezes para não gravar os seus espetáculos, pois algumas piadas fora de contexto podem ser vistas como extremamente ofensivas. Porém, é usando técnicas como estas que um designer tenta “desarmar” o público e criar uma relação mais íntima com o objeto de design. Ao não dar a entender essa relação, Adams faz com que o leitor perca interesse em entender esse processo. Ao dar exemplos a nível de humor ou a referir eventos específicos que pessoas fora de determinado país ou faixa etária não perceberam, a “dissecação” desses exemplos agrava ainda mais o problema.

No livro é apresentado um cartaz de publicidade para o festival “La Bâtie” (p. 120), o qual tem a figura de um homem semi-nu a tirar uma foto a si mesmo ao espelho. Imagino que muitos da minha geração não perceberão o humor por trás deste design, a menos que a ideia de ter uma publicidade com alguém despido seja ironicamente hilária. Adams afirma todavia que a ideia original deste projecto é usar imagens deste género, que normalmente não são usadas para publicidade de eventos. Porém, devido às redes sociais estamos tão dessensibilizados com este tipo de imagens que elas já não funcionam. A presença do emoji sorridente com corações nos olhos apenas ajuda a segmentar o cartaz como desatualizado junto de uma parte mais jovem da sociedade, e não como universalmente cómico ou sequer engraçado.

Dito isto, de longe a minha maior crítica ao livro é que este falha em considerar e analisar conjuntos de emoções. Uma peça de design não faz surgir apenas uma emoção no observador: o que este sente é proporcionado através de interações entre emoções diferentes. Como tal, reduzir uma peça a uma única emoção é um desserviço e faz com que a nossa interpretação e análise fiquem incompletas. Ao ignorar a relação entre prazer e sedução, ou até entre a elegância e o orgulho, Adams faz com que alguns capítulos do livro sejam redundantes, pois estas emoções poderiam ter sido exploradas em conjunto. As emoções são complicadas e devem ser tratadas como tal: ao dissecar elementos de cada imagem numa só emoção, o autor está a dissecar a rã.

Este livro começa como uma nova visão em relação à interpretação de design, e a quantidade de exemplos que apresenta não só ajuda a abranger o conhecimento no mundo de design do leitor como também a internalizar as lições que o autor tem a dizer sobre o uso de cada emoção numa maneira clara e concisa. Porém, esta perspetiva pode ser um pouco supérflua devido à inerente complexidade dos trabalhos que estuda e quanto às falhas na sua premissa. Não obstante, considero que em geral é uma boa introdução a pensar sobre o design que nos rodeia e a incentivar mais estudos sobre esta atividade.

Recensão de:
Tiago Teixeira Castro

Licenciatura em Engenharia Aeroespacial, IST

Disciplina: Estudos em Design, 2022-23