Este livro explora como o design funciona através de uma atitude perante desafios mundiais, tais como a emergência climática, a crise das pessoas refugiadas, o crescimento da pobreza e da intolerância e, mais recentemente, a pandemia de covid-19. A mudança tecnológica e o impacto de algumas das suas dimensões são antecipados em temas como a engenharia neuromórfica, a bioinformática, os carros autónomos, a biologia sintética, entre outros.
Em termos de conteúdo, a obra começa com um primeiro capítulo introdutório, o “Prologue”, ao qual se seguem 13 capítulos. Estes concretizam-se com a hierarquização equitativa da apresentação de conteúdos: numeração do capítulo, título, imagem a preto e branco alusiva à temática do artigo, breve descrição (na página par); citações e identificação da sua autoria (página ímpar);, desenvolvimento do texto (início na página par seguinte). Esta regra repete-se nos 13 capítulos, com exceção dos capítulos finais do Appendix. Os conteúdos são sempre enunciados a partir do título que apresenta o conteúdo que se segue, independentemente de se tratar dos projetos de design, da bibliografia ou de informações sobre a autora.
Posto isto, o capítulo Designers and Design Projects enumera designers e projetos nos quais estes/as trabalharam. Estes exemplos são variados e incluem tanto projectos europeus como africanos, tanto na área do design de comunicação como industrial, de moda e tantos outros.
A narrativa deste livro inicia-se com uma contextualização sobre o designer László Moholy-Nagy, ao qual a autora foi buscar a inspiração para o nome do livro, nomeadamente à sua expressão, “Designing is not a profession but an attitude”. Rawsthorn menciona a passagem de Moholy-Nagy pela Bauhaus, bem como o seu fim de vida de além das obras que produziu, particularmente o seu livro Vision in Motion.A autora destaca em particular o capítulo dois deste livro, do qual consta a citação que traz para o seu livro, a qual corresponde a uma visão autoral inspirada por uma interpretação construtivista do design.
É através da atitude que o design desenvolve capacidades e adopta diferentes significados em diferentes momentos e contextos, afirmando-se como agente de mudança.
Como referido anteriormente, este capítulo introdutório antecipa alguns dos temas a explorar ao longo do livro, desde a emergência climática à crise das pessoas refugiadas. Nos que se sucedem são apresentados casos práticos de design, nos quais a atitude – sobretudo uma atitude para a mudança – é fundamental.
Destes capítulos destaco o 12, referente ao Design e ao Desejo. Neste capítulo é desenvolvida uma ligação entre estas duas dimensões, que muitas vezes coexistem mas que nem sempre impactam positivamente o design.
Surge a frase que levanta um facto essencial para o desenvolvimento deste capítulo: “o lixo de bom gosto continua a ser lixo”. O que significa esta frase para o design? A questão do desejo no design pode ter sofrido alterações ao longo da história, tal como nos modos de produção, mas uma dimensão que prevalece é a utilidade. Afinal qual é o propósito de algo inútil? Se um projeto de design não cumpre a sua função e o que faz fá-lo de modo ineficiente, por que o consideramos apelativo?
Um exemplo apresentado pela autora que demonstra esta dualidade do design e do desejo é o Google Glass, lançado e retirado do mercado dois anos depois da sua estreia. Rawsthorn considera o seu uso irrisório; os seus utilizadores foram referidos pelos media como “Glassholes” e assim são lembrados. A experiência oferecida pela Google era já permitida através de smartphones, pelo que não haveria vantagens que justificassem a sua compra e utilização.
Para além do design e da projeção em si, as condições de trabalho inseguras e precárias, especialmente quando aliadas a salários baixos, são também um indicador que faz o/a consumidor/a não ter a mesma visão perante uma marca e produto/serviço. Isso aconteceu no caso da Apple, quando os meios de comunicação social revelaram estes problemas nas fábricas chinesas dos seus fornecedores. Ao longo deste excerto do capítulo a autora enuncia que esta problemática não significa que o público consumidor Apple pare de consumir de imediato; contudo, ela considera inevitável que a confiança e integridade da marca sejam colocadas em causa, tal como acontece com inúmeros exemplos na indústria da moda e do design de moda diretamente ligado à fast-fashion. Quando estas questões são levantadas o desejo fica afetado e a médio-longo prazo estas marcas saem prejudicadas.
A tentativa de inclusão e diversidade é muitas vezes camuflada com intenções duvidosas relativas ao conceito desenvolvido, e consequentemente aos lucros obtidos a partir daí.
Todos os exemplos apresentados ao longo do capítulo revelam que a integridade também se estende ao objetivo de um exercício de design. E que o desejo é aliado do design mas pode também ser um inimigo. Pois, apesar dos esforços no design, muitas pessoas ainda assumem o aspecto e a estética como factores de maior importância para a maioria dos exercícios de design. Algo que colide com o princípio já referido e fortemente defendido por Rawsthorn: a utilidade.
Em suma, considero que esta obra revela, de forma bem organizada ao longo de cada capítulo e através da história de cada projeto, que a atitude é fundamental na prática do design. Esse é afinal o “motor” para concretizar os projetos, para que estes sejam postos em prática e não apenas uma idealização de uma solução sem aplicabilidade, ou que quando é aplicável não responde ao objetivo e propósito de quem a projectou. Com casos de estudo e exemplos apresentados de forma bastante pertinente, esta obra procura ainda descrever como designers aliam a resposta ao planeamento e à execução de projeto de forma a apresentar resultados, algo que particularmente me fez muito sentido por compreender ao longo de cada capítulo e exemplo de projeto que um bom planeamento consegue trazer um resultado final melhor.
Recensão de:
Margarida Pereira
Licenciatura em Design de Comunicação, FBAUL
Disciplina: Estudos em Design, 2022-23